Montaigne nasceu no
Castelo de Montaigne, em
Saint-Michel-de-Montaigne, após seu nascimento, o pai entregou-o a uma enfermeira de uma aldeia vizinha e veio com três anos de volta para a família.
[2] Seu pai lhe deu um tutor alemão que lhe falava somente em latim. Assim, o latim era quase a língua materna de Montaigne. Este tinha um espírito por um lado vigilante e metódico e por outro, aberto às novidades. Após estes estudos enveredou pelo
Direito. Exerceu a função de magistrado primeiro em
Périgueux (de
1554 a
1570) depois em
Bordéus onde travou profunda amizade com
La Boétie.
[2]

Quarto e escritório de Michel de Montaigne.
Retirou-se para o seu Castelo de Montaigne quando tinha 34 anos para se dedicar ao estudo e à reflexão. Levou nove anos para redigir os dois primeiros livros dos
Essais. Depois viajou pela primeira vez por Alemanha, Suíça e Itália durante dois anos (
1580-
1581). Faz o relato desta viagem no livro
Journal de Voyage, que só foi publicado pela primeira vez em
1774.
Foi
presidente da Câmara de Bordéus durante quatro anos. Regressou ao seu castelo e continuou a corrigir e a escrever os
Essais, tendo em vista o estilo parisiense de exposição doutrinária. Os seus Ensaios compreendem três volumes (três livros) e vieram a
públicoem três versões: Os dois primeiros em
1580 e
1588. Na edição de 1588, aparece o terceiro volume. Em
1595, publica-se uma edição póstuma destes três livros com novos acrescentos.
[3]
Seus
Essais são principalmente autorretratos de um homem, mais do que o autorretrato do filósofo. Montaigne apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade humanas. Procura também encontrar em si o que é singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observação acabou por observar também o Homem no seu todo. Por isso, não nos é de espantar que neles ocorram reflexões tanto sobre os temas mais clássicos e elevados ao lado de pensamentos sobre a
flatulência. Montaigne é assim um livre pensador, um pensador sobre o humano, sobre as suas inconsistências, diversidades e características. E é um pensador que se dedica aos temas que mais lhe apetecem, vai pensando ao sabor dos seus interesses e caprichos.
[4]
Se por um lado se interessa sobremaneira pela
Antiguidade Clássica, esta não é totalmente passadista ou saudosista. O que lhe interessa nos autores antigos, especialmente os latinos mas também gregos, é encontrar máximas e reflexões, que o ajudem na sua vida diária e na sua auto-descoberta. Montaigne tenta assim compreender-se, através da introspecção, e tenta assim compreender os homens.
Montaigne não tem um
sistema. Não é um
moralista, nem um
doutrinador. Mas não sendo
moralista, não tendo um sistema de conduta, uma moral com princípios rígidos, é um pensador
ético. Procura indagar o que está certo ou errado na conduta humana. Propõe-se mais estudar pelos seus ensaios certos assuntos do que dar respostas. No fundo, Montaigne está naquele grupo de pensadores que estão a perguntar em vez de responder, e é na sua incerteza em dar respostas, que surge um certo
cepticismo em Montaigne
[5] . Como não está interessado em dar respostas apriorístico tem uma certa reserva em relação a misticismos e crenças. É de notar um certo alheamento em relação ao
Cristianismo e às
lutas de religião que se viviam em França na época.
[2] Embora não deixe de refletir em assuntos como a destruição das Novas Índias pelos
espanhóis. Ou seja, as suas reflexões visam os clássicos e a sua própria
contemporaneidade. Tanto fala de um episódio de
Cipião como fala de algum acontecimento do seu século como fala de um qualquer seu episódio doméstico.
[6]
O facto de ter introduzido uma outra forma de pensar através de de ensaios, fez com que o próprio pensamento humano encontrasse uma forma mais legítima de abordar o real. A verdade absoluta deixa de estar ao alcance do homem, sendo doravante, possível tão-somente uma verdade (?) por aproximações.